Ontem rolou um debate em um grupo de brasileiros Profissionais de TI, aqui no Canadá. E a conclusão geral foi: os influencers estão mentindo para você!
Tenho observado o número de pessoas que querem sair do Brasil. Não tenho nenhuma fonte estatística real para colocar aqui percentuais, mas tenho sido procurado no LinkedIn por pessoas que buscam seguir um caminho semelhante ao que percorri: imigrar para o Canadá.
A todos que me procuram eu gosto sempre de citar uma frase que ouvi do Ilya Brotsky: “Conseguir um emprego no exterior não é uma sprint, mas uma maratona.”. Em outras palavras, nem sempre você vai ser aprovado na sua primeira entrevista. Provavelmente você não está preparado para oferecer tudo que as empresas no exterior buscam. Sem contar que você passa a concorrer com o resto do mundo. É uma concorrência que geralmente você não está acostumado.
Muitos acabam seguindo o plano mais clássico: estudar num College, conseguir um PGWP, trabalhar e finalmente imigrar com sua experiência adquirida. Esse plano é ótimo! Sempre ouço os Irmãos Prezia falando desse plano e concordo plenamente. Ele é o maior “atalho” que alguém pode tomar, pois vai colocar você no fluxo imigratório que o IRCC se baseia. Lembre-se sempre que a maior parte da imigração para o Canadá é econômica (pautada na economia do país).
Importante: quando me refiro aos influencers neste texto não estou me referindo aos Prezia, OK!?
Tá, mas o que tudo isso tem a ver com TI?
Bem, a área vinha em um crescimento saudável até final de 2019. Em 2020 a #pandemia fez com que empresas precisassem de profissionais como nunca. Quem não vendia online, quem não ESTAVA online, estaria fadado ao esquecimento. A busca por solucionadores de problemas junto com a escassez de mão de obra fez com que os salários aumentassem exponencialmente.
Anderson, tudo isso isso eu sei. Mas onde entram os influencers nessa história?
Calma que vou falar deles agora.
De um lado, inúmeras pessoas sendo demitidas em diversas áreas. De outro lado, salários altos e falta de profissionais. Começaram a aparecer os casos (fakes e reais) de pessoas com quase nenhuma experiência ganhando melhor do que profissionais bem sucedidos de diversos setores. Essa notícia vende, certo? E com isso os influencers não perderam tempo. Foi um tal de pipocar de cursos e mais cursos. “Do zero ao DevOps em duas semanas”, eles diziam. Mas eles não contavam que os grandes salários não eram para uma pessoa que fez um cursinho de duas semanas e nunca tinha tido um bug em produção… Não contavam que na tal “média salarial da área” pesava os salários dos profissionais com mais de 20 anos de carreira. Isso ninguém contou.
Essa “história-mal-contada” atraiu MUITA gente com carreira e filhos a tentar pivotar a carreira, recomeçando em TI. A soma de desemprego, promessa de salários altos, situação política complicada no Brasil e uma facilidade no processo de imigração para o Canadá levou um grande grupo de pessoas à tentar recomeçar no exterior em uma nova carreira.
Hoje o inchaço na área é palpável. Vejo muitos colegas sendo demitidos. Seja por salários altos ou por excesso de profissionais. Chegamos em um ponto que a área está tentando se regular novamente. Mas isso vem com o preço de colocar chefes de família na rua, trazendo incerteza para suas famílias.
Nas terras geladas do norte, em meio aos brasileiros a insatisfação é geral. E isso foi, inclusive, o que gerou o debate no grupo que mencionei. Quem veio recomeçar está brigando por vagas com pessoas mais experientes. A tal da “mentira” dos influencers também rolou muito por aqui. Colleges abarrotados, falta de professores, matérias mal-explicadas e cada vez mais gente se formando sem conhecimento e experiência. O suco disso em meio aos imigrantes é a constante busca por emprego. Pessoas com N formações mais um College Canadense trabalhando com entrega ou outros trabalhos informais.
Nossa, Anderson… Mas você veio aqui só pra contar história triste? ☹
Na verdade, não. Sendo honesto, emprego tem. Mesmo na área. Não temos a mesma quantidade de vagas abertas que tínhamos em Maio de 2020. Mas as vagas ainda hoje estão buscando profissionais com experiência. A indústria descobriu que não adiantar pagar muito só porque o cara se formou em React na Zezinho da Equina Treinamentos e no GitHub dele tem uma “Clone do Twitter“. Ele não vai saber resolver problemas do tamanho do Twitter. Ele não vai saber trabalhar com requisições no volume do Twitter. E na hora do vamos ver, ele vai mal saber consumir a API do Twitter… Esse cara pode, sim, um dia ter experiência pra isso. Mas não vai ser com o Zezinho da Esquina que ele vai aprender. É começando de baixo, sendo estagiário e fazendo besteira. Como Júnior, entregando valor em demandas menores. Como pleno, sendo capaz de trabalhar sozinho. E finalmente, como Sênior, descascando os pepinos de todo mundo e ainda orientando os menos experientes. Esse é o cara que faz com que a média salarial da área seja alta. Esse é o cara que as empresas têm dificuldades em encontrar.
Tá, mas como eu chego nesse ponto? Como eu ganho experiência se ninguém quer me dá experiência?
Se não te dão oportunidade, crie a sua.
Ainda vou escrever um pouco melhor sobre caçar emprego no Canadá. Mas em linhas gerais, que valem também para o Brasil, você pode demonstrar sua experiência através de projetos próprios onde você soluciona problemas reais mas inventados😁. Em vez de você simplesmente fazer um Clone do Twitter porque é bonitinho, foca em mostrar como você lida com as diversas tecnologias e Padrões de Projeto de forma aplicada. Nos seus projetos do GitHub, explique no seu readme.md qual foi sua abordagem, o que você fez e o que não fez. Explicar o que você não fez mostra que você tem conhecimento sobre o que e quando usar certas coisas.
Mesmo que essas não sejam experiências profissionais, você está demonstrando para um Head Hunter que tipo de conhecimento você tem no seu cinto de utilidades. Como você está disposto a trabalhar. Você pode colocar no seu currículo que conhece todos os Design Patterns do universo. Mas nada como você mostrar que sabe usá-los quando eles realmente são necessários.
Outra coisa importante é seu mindset. Pare de perder tempo com TikTok, Instagram, Facebook e grupos inúteis do WhatsApp. Seu dia tem 24 horas apenas. Quando você pensar em buscar essas redes, vai no YouTube ou no Spotify e procure assistir vídeos ou ouvir podcasts de assuntos relacionados ao que está em demanda. Sugiro canais como Código Fonte TV, Fábio Akita, Balta, Brian Lagunas, CS50, Felipe Deschamps, Fabrício Veronez, dentre outros. O que não falta é conteúdo bom e gratuito. Sim, muitos vão tentar te vender um curso depois e talz. Mas aproveite para extrair o que está disponível de forma aberta para você ouvir enquanto cozinha. Se vai pro trono, em vez de ficar passando o dedo pra cima, coloca o tutorial de alguma linguagem. Ocupe seu tempo apenas com aquilo que vai te levar à algum lugar.
Poxa, Anderson… Mó chato você, hein! Vai dizer que você não assiste umas besteiras?
Assisto, claro. Mas mesmo o que te diverte pode te engrandecer.
Por fim, pode parecer meio contradizente eu concluir um textão que fala como os influencers mentiram para você, indicando influencers… Mas nenhum dos que eu estou citando eu vi “mentindo”. Mesmo os que vendem cursos, são mega responsáveis com suas asserções. Tenha cuidado com o canto da sereia. Foque em pessoas sérias com trabalho reconhecido na indústria.
E havendo algo que eu possa te ajudar, não hesite em me procurar.
Sucesso!